Porfírio Arede: o alfaiate que se apaixonou pelas plantas

Porfírio Arede: o alfaiate que se apaixonou pelas plantas

Porfírio Arede mergulhou há muito no fascinante mundo das plantas aromáticas e medicinais. Com 80 anos, cheios de vitalidade e entusiasmo, este alfaiate tornou-se um verdadeiro especialista no uso das ervas, paixão que faz questão de transmitir aos outros. Acompanhe-nos nesta viagem única, onde cada ponto costurado e cada erva cultivada são testemunhos de uma vida plena e repleta de significado. 

Descoberta das ervas medicinais

Com um conhecimento contagiante, Porfírio Arede descobriu ainda novo a sua paixão pelas ervas medicinais que foi conciliando com a sua atividade profissional, social, cívica e familiar. Com anos de estudo e prática, ele encontrou nas ervas uma fonte de saúde e bem-estar, conhecimentos que partilha com entusiasmo e generosidade.

Deveria ter uns 40 anos quando se começou a interessar verdadeiramente pelo tema. Assinava a revista das Seleções do Reader’s Digest e esta apresentava com frequência artigos sobre os benefícios das plantas. Isso fê-lo recuar no tempo até à sua infância e juventude e perceber então algumas das dicas, conselhos que lá, na casa repleta de irmãos, se colocavam em prática.

Porfírio recorda, por exemplo, a utilização nas saladas dos dentes de leão. Estávamos nos anos 40/50 do século passado e uma casa dividida com muitos irmãos não ajudava na fartura. Por isso, na ausência de alface comiam-se outras verduras o que curiosamente, verificou mais tarde, eram afinal excelentes alternativas do ponto de vista alimentar e mesmo no que diz respeito à saúde preventiva.

Das revistas das Seleções a outros livros sobre o tema foi um pequeno passo. De repente tudo o que ouvira no passado da boca dos mais antigos começa a fazer mais sentido. 

A ciência comprovava aquilo que os seus pais tinham ouvido dos seus avós e estes dos seus pais.

Quando deu por ela, além de estudioso dedicado, colecionava exemplares diversos de plantas aromáticas e medicinais às quais foi dando espaço no seu quintal. 

E o seu olhar passou a ver as coisas de maneira diferente.

Aprendeu a olhar para os muros e bermas da estrada com um interesse inusitado.

Em passeios pelo país fora, em excursões ou em família, enquanto uns se focavam num edifício ou numa bela paisagem panorâmica ele detinha-se no pormenor, nas características das folhas, no cheiro ou até no sabor de exemplares desprezados nos sítios mais inesperados.

Quando deu por si o tema tinha-se tornado numa quase obsessão levando-o a querer saber mais e mais.

Plantas aromáticas e medicinais: a paixão partilhada

Na sua arte, a de alfaiate, é chamado a transformar tecidos em roupas que se ajustem perfeitamente a corpos únicos transformando pessoas comuns em elegantes cavalheiros.

Não se sabe se a atenção de Porfírio Arede ao detalhe na profissão teve influência no seu fascínio pelas plantas aromáticas e medicinais. O que se sabe é que, nas últimas décadas, dedicou às plantas e aos seus benefícios um entusiasmo que não guarda só para si.

Nos eventos para os quais é amiúde convidado, Porfírio Arede usa quase sempre a mesma estratégia.

Numa mesa estende as plantas, no seu estado natural: os orégãos, os tomilhos, a salicórnia, o levístico, a artemísia, o ginkgo biloba, o alecrim, o poejo e uma infinidade de outras plantas que recolhe no seu quintal para “ilustrar” as suas apresentações.

O público que se junta à sua volta é convidado a pegar, a cheirar, a surpreender-se.

Alguém diz: “esta cheira a coca-cola!” Outra pessoa associa outra aos caldos Knorr ou Maggi. É a magia das plantas já que o aroma da artemísia faz lembrar o famoso refrigerante e o levístico traz às pessoas a lembrança dos caldos que se compram para temperar as refeições.

As perguntas começam a surgir em catadupa e depois a conversa segue por ali fora. 

Conta histórias e episódios que presenciou como, por exemplo, o do senhor idoso a quem ele e um amigo deram boleia num dia de chuva intensa lá para os lados do Rabaçal onde foram buscar azeite.

Uma possível constipação foi logo tema de conversa, mas o passageiro à boleia logo revelou ser portador de uma receita milagrosa: uma infusão de três folhas de laranjeira, uma folha grande seca de sabugueiro e três folhas de eucalipto adoçada com bom mel da região.

Ora, como recorda Porfírio sempre com espanto quando conta este episódio, os princípios ativos presentes nos ingredientes da “milagrosa” receita para combater a constipação são os mesmos que a farmacêutica utiliza nos seus produtos. Assim, em teoria, esta infusão pode proporcionar benefícios como alívio de sintomas respiratórios, fortalecimento do sistema imunológico e propriedades calmantes.

Ginkgo

Biloba

A planta milenar que é, para Porfírio Arede, um exemplo de inspiração, resiliência e conhecimento ancestral.

Prevenir antes de curar

Porfírio Arede conta esta e outras curiosidades para mostrar, por um lado a imensa sabedoria popular acumulada e transmitida entre muitas gerações e, por outro, que o uso das plantas pode e deve ser usado mais frequentemente.

Mas – como faz questão de avisar – “não para curar, mas para prevenir!”.

Porfírio Arede realça a disponibilidade que a natureza nos proporciona de forma permanente e num campo tão diversificado de benefícios para a saúde. Para cada problema, recorda, há sempre um conjunto alargado de soluções providenciadas pelas plantas aromáticas e medicinais. 

Sensibilizar as pessoas para estas vantagens disponibilizadas pela natureza não é, no entanto, uma tarefa simples.

A predominância da indústria farmacêutica, que oferece soluções mais fáceis e mais imediatas sob a forma de comprimido, tem afastado a sociedade dessa opção mais saudável, igualmente eficaz e muito mais acessível economicamente.

Mas este alfaiate não desiste e a cada solicitação para divulgar o seu conhecimento a resposta é sempre positiva. Por isso quando o convidámos a escrever para o aromaticas.eu, a resposta foi afirmativa e pode ver a primeira dessas contribuições aqui.